terça-feira, 24 de março de 2015

Coletivo de Artes: GARAGE

Sou sempre questionada porque demorei tanto para escrever e postar aqui sobre o Garage Coletivo de Artes, onde residem minhas 'concentrações' em voz alta. De tão simples a resposta, acaba se tornando complexa. Vamos a ela:

Pra quem não conhece, o Garage é um espaço incrustado no movimento da Cultura de Santos, onde se encontram jornalistas, bailarinos, escritores, artistas plásticos, poetas, fotógrafos, escultores, historiadores e artistas em geral. O local dessa concentração de talentos, criatividade, conhecimentos, reflexões, ideias e obras é uma garagem da casa do advogado por profissão e artista por vocação, calunga (nascemos em São Vicente) como eu, José Maria da Costa Villar, que se descobriu nas tintas e suas cores, quando ainda era uma criança, aos nove anos de idade.

Aliás, o Garage de Villar e de todos nós, não se resume na garagem de sua morada, eis que ela é parte do todo e representa uma espécie de portal de acesso e passagem para conhecer sua Casa Galeria. Funciona desde 2012 como ponto de encontro para fermentar falas, discussões, protestos, postagens online nas redes sociais e criações instantâneas ...

O espaço é pequeno e irrestrito nas acomodações de seus atores, que se esparramam pela área de serviço contígua e a um pé da calçada numa rua particular do José Menino. Nesse contexto, todos os sábados, a partir das três da tarde, Villar abre os portões com um café, acepipes trazidos pelos convivas, às vezes um vinho e papos filosóficos.

Por isso ouso dizer que o coletivo de artes é Garage, que ainda não estava registrado aqui, porque ele está ali e onde você quiser que esteja.

Das rodas de conversa, em meados de 2012, nasceu a ideia de uma Exposição. Foram meses de discussão sobre o tema, debates, brigas, diálogos, monólogos, e, enfim, nasceu:


O Sagrado e o Contemporâneo, em 2013. 

A primeira Exposição do Grupo, aconteceu em Outubro de 2013, e permaneceu um mês nas instalações da Galeria de Artes Brás Cubas, que funciona no Centro de Cultura Patrícia Galvão, no foyer do Teatro Municipal de Santos, que tem a mesma denominação do fundador de Santos.

Nesse momento, éramos nove !!!

Costa Villar , fundador do coletivo Garagem, artista plástico e performer

Olegário Monteiro Artista Multi-Mídia  e performer

José Manuel de Souza Neto, artista plástico e historiador de arte (in memoriam)

Marcio Garrido, escultor 

Marcelo Rayel, escritor, letrista e performer

Tatiana Justel, bailarina coreógrafa e performer

Jeanice Ferreira, bailarina, pesquisadora e performer
Fabiano Ignácio: fotografia
Simone Anjos: produção fotografia
Madeleine Alves: direção do curta Carta a um PCR e captação de imagens.

A exposição O Sagrado e o Contemporâneo, foi realizada sem qualquer custo para Secult, que contribuiu com a cessão do espaço na agenda da Galeria, e nós realizamos na raça, no amor. Me orgulho demais disso.


Marcelo Rayel

Foi um sucesso, uma noite linda, de consagrar o que tínhamos lutado tanto, depois de tantos debates, de brigas, de desentendimentos; aquela noite enfim, era o resultado do nosso trabalho, dos sábados e sábados, na garagem onde tudo começou, regada a cafés, e emoções.

Nada melhor que o registro em vídeo, para mostrar a vocês o trabalho do Coletivo de Artes Garage.

Como na maioria dos grupos artísticos, uns se foram, outros chegaram, mas acredito que a perda maior foi do nosso querido José Manuel, que nos deixou em janeiro deste ano.

Para finalizar, o Garage está há um ano trabalhando nossa segunda exposição, sim!!!! Agora lá nas margens do Rio Piracicaba, prevista para o próximo mês de maio de 2015. Um contato maravilhoso que está envolvendo gente muito comprometida com a cultura. 

Todos os artistas envolvidos na Grande noite da Exposição O Sagrado e Contemporâneo, em 2013.

Vídeo realizado pelo Canal Oito de Dança Santos/SP
Vídeo de Madeleine Alves (performance Pedis Christis)
  "Carta a um PCR", texto de Marcelo Rayel e direção de Madeleine Alves.


... momentos ...
Garage
na Garagem, todos os sábados, as portas abertas a quem quiser nos visitar!!!
Haja coração !!!!!
bem-vindos ao Garage !!!!!
Adriana Barbieri e Claudinei Bettiol.
au revoir et a Piracicaba maio de 2015
EVOÉ !!!!!

Agradecimentos a todos que passaram por aqui: 
Marcelo Rayel, Marcio Garrido, Bellinni, Marcelo Ariel, Alessandro Atanes, Bettiol, ao ex-secretário de cultura de Santos Raul Christiano, ao chefe do Deforpec da Secult Murilo Netto, Catarina Apolinário , ao Canal Oito de Dança, a Madeleine Alves, Simone Anjos, Fabiano Ignácio 
e a todos os artistas que nos visitaram.



TATIANA JUSTEL

5 comentários:

  1. Qualquer coletivo, assim como a vida, é quase um 'alinhar o caos'...

    ... se alguém souber do segredo para o sucesso de tal empreitada, pago bom dinheiro.

    Um coletivo, seja ele qual for, assim como na vida, é um alinhavar de idiossincrasias que, sabe-se lá porque cargas-d'água, as temos.

    Tempos mais tarde, fiquei pensando a árdua tarefa do grande José Maria da Costa Villar... observando aqui e ali, em outros agrupamentos pelo mundo afora, nunca se é a tarefa mais simples de conduzir.

    A história do "Carta a um PCR" é a história de tentar se cumprir uma tarefa que, inicialmente, parece simples, contudo, ardida no que se pode vir à cabeça e perpassar a alma.

    Era um momento de certa aridez em termos criativos. Quem é artista, ou quem escreve, tem a escrita como arte quase que como um ofício, vive às voltas com um certo 'silêncio de voz', uma voz surda que resolve nos abandonar quando mais precisamos dela.

    Aquele momento pessoal era o encontro com a fronteira do intransponível, do improvável, daquilo que não acontecerá (por mais que se faça força para tal), o despertar diante dos frios fatos de que 'querer não é poder', a equação é monumental, variáveis imponderáveis, o real encontro desse choque que é o descompasso, e, a partir daquele ponto em diante, entender que esse 'tudo' não escaparia dos caprichos de eventuais perdas, das não-correspondências, desse tipo de água que escorre de nossas mãos.

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  2. Nem precisaria dizer da enorme dificuldade que tinha ao conversar com o grupo, naquele instante, sobre uma grande dificuldade de acertar melhor o sagrado, em certeiramente atingir o que se poderia definir como contemporâneo (esse espaço atualmente diabólico onde entra tanta coisa que não deveria sequer ser classificada com tal).

    Até que...

    ... 'trombei' com Foucault!

    Era um texto de uma grande obra do filósofo italiano Giorgio Agamben, "O Que é o Contemporâneo?". E tome-lhe os dispositivos de Foucault! Para Foucault, um coletivo como o Garage é um dispositivo, uma escola é um dispositivo, uma igreja é um dispositivo, uma agremiação futebolística é um dispositivo, um restaurante é um dispositivo e, se a coisa se estender, idéias tidas como abstratas podem ser encaradas como dispositivos.

    Porque, para Foucault, tudo aquilo que ordena a sociedade, seja pelo viés de convenções, ou pela 'psique', que transforma o sujeito para uma postura que melhore seu ajuste dentro de um cenário mais amplo e com regras muitas vezes inexplicáveis (como no caso de uma escola, por exemplo), isso é um 'Dispositivo'.

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  3. Descobrimos, ao longo da vida, que nem sempre os dispositivos são para o bem. "Perigos há por toda parte". Mantermos os pés sobre o cadafalso é que são elas. Soa sempre uma 'alternativa do diabo' (Forsyth). E, às vezes, duvidamos estar fazendo a melhor das escolhas.

    Se é que realmente fazemos escolhas... Mascaramos, e bem, estarmos fazendo escolhas, as melhores. Mas tudo, repentinamente, não passa de uma tremenda falta de alternativa.

    Se a elevação dos sinais, ou ícones, objetos e gestos, que orbitam no mundano, cotidiano e secular, à categoria de uma espécie de pureza, que nos recordam de nossa ligação eterna com o intangível, de classe superior e que não se encontra nesse mundo terreno e material, temos, assim, o Sagrado.

    Se o Sagrado é eterno, ele também é contemporâneo. Sua rusga com o 'atual' (esse contemporâneo rasteiro que encontramos no nosso dia-a-dia e (o que mais me dói!) que parece não fazer mais parte do interior das pessoas (incluindo artistas!) no trato com aquilo que não lhe pertence) advém dessa tentativa de dessacralização desses itens, objetos, sinais e gestos, posturas, seu retorno para o mundo secular.

    Entretanto, esse caminho de volta, de retornar ao mundo uma postura que seria tida como Sagrada (a dessacralização), requer pleno conhecimento de todos os componentes que a fizeram ser elevada a tal categoria quando do caminho de ida. E o que mais encontramos nos dias de hoje são pessoas que juram conhecer (ter autoridade para) todos esses elementos para esse caminho de volta, a dessacralização.

    Pensam que sabem...

    Nos dias de hoje, as respostas para boa parte dos problemas estaria na genética, na extração de ácidos desoxirribonucléico (o DNA), esse material cromossômico que para boa parte dos leigos parece ter a solução de tudo. Não, meus caros e minhas caras, não tem! Há muito mais intangibilidade do que vocês possam imaginar. Essa tentativa de elevar essa parte da ciência, vista por Foucault como 'dispositivo', para um antro inalcançável de infalibilidade, é o início da queda. O fim do que move nossas almas, do todo e qualquer sentimento que hoje é rebaixado como 'romântico'.

    Um tempo onde as pipetas regem cultos. E tudo aquilo que nos toca, nos move e nos afeta (a afetividade) virou massa aforme nas mãos de gente perturbada, incauta e insensível, que insistem em me vender que isso que vai ao fundo de mim é um ótimo motivo de pilhéria.

    E foi graças ao Garage que conheci Foucault, que soube mais sobre o Sagrado, o Contemporâneo e a dessacralização em curso nos dias de hoje.

    O artista que se esquece primeiro de ser gente, ser humano, antes de abrir seus próprios olhos em qualquer alvorada, sempre produzirá um efeito histriônico que, muito remotamente, quem sabe, um dia, poderá ser lembrado ou chamado de arte.

    E aproveito esse espaço para minhas reverências ao meu Mestre: José Manoel de Souza Neto. Com quem aprendi a Linha do Horizonte. Meu Mestre, meu Mestre, meu Mestre. Nessa sequência de perdas que tanto eu como tantas pessoas mais próximas vêm tendo, nenhuma ausência pode ser tão dolorida, dolorosa, sanguínea e fustigante quanto a passagem de nosso Mestre. Que tantos nos ensinou, com quem tanto aprendemos. Ninguém é insubstituível?! Não sei... Pode até ser. Mas há seres iluminados que, nessa passagem pelo mundo, em nossas vidas, nos farão muita falta. Uma falta brutal.

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  4. O que dizer? Daria outra publicação sobre o garagem só com as suas palavras . Imagino o filme que passou pela sua cabeça, imagina para mim escrever e reviver tudo isso.!!!!!!!
    eu sempre sentirei falta de todos Rayel, de todos que mencionei.

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    1. Há tantos filmes em mim...

      ... penso, às vezes, que seria uma pessoa melhor sem a memória.

      A revisitação, pela memória, sempre será bem-vinda, se seu devir for o de transformação profunda, a revolução humana, interna, de dentro para fora.

      E quando, pela memória, recordo tantas coisas, torna-se inevitável não pensar nelas. É como se cada milionésimo de segundo fosse recheado desse pensamentos de tudo. Tento não ver todos esses filmes que passam na minha cabeça, como se quisesse evitar essa linha tênue entre tentar conduzir a vida com um mínimo de dignidade e o ímpeto de rasgar-me em emoção, vivê-la quase sem freios e sem rede de proteção, sucumbir sentimentalmente ao que me trouxe até aqui.

      Não há valor pecuniário para a vivência da memória. Os pensamentos, dela advindos, podem conter um custo elevadíssimo. A emoção é um vício. Às vezes, penso que dele não quero me reabilitar.

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