Quase uma semana sem computador, rádio, TV e jornais, as
notícias decorridas do Brasil vinham do povo argentino, que a meu ver parece mais politizado do que nós.
Não estava alienada, mas meu centro-foco nessa viagem
tinha um cunho muito pessoal. Tendo consciência da real situação política que o
Brasil está passando, só me restava ouvir os comentários "assertivos" dos hermanos, sem ironia:
__ O Brasil está num processo de Argentinização!!!!
Ou seja, para eles o nosso país está quase ficando ruim, por que lá, já está, faz um bom tempo.
Dinheiro desvalorizado, inflação corroendo, corrupção, uma Presidente da República com
baixa popularidade, um povo cansado, sofrido, e quase já sem esperança. A
Argentina é governada no piloto automático, trabalha no volume morto, está em
depache mode, há muito tempo.
Vivi em Buenos Aires, em meados dos anos
90, numa época em que a mesa era farta, não faltava trabalho, o dólar e o peso argentino
estavam equiparados, até chegar a grande crise nos últimos anos e começo de 2000; e o que
testemunhei foi triste. Os jovens emigraram do país, foi devastador, um verdadeiro exôdo.
Mas não quero entrar no cenário da política. Minha intenção com esta postagem é o compartilhamento da minha impressão positiva em relação a cultura e a
educação, nessa passagem mais recente.
Tive a oportunidade de visitar a Secretaria de
Cultura da Província de Vicente Lopez, que está localizada a 14 km de Buenos
Aires.
Conversei por poucas horas com o Secretário de
Cultura, Andrés Gribnicow, que me foi muito receptivo e simpático. Trocamos figurinhas, intercalando goles do famoso mate porteño e degustando algunas medias lunas.
Ele me explicou que o seu trabalho é realizado, quase sem ajuda orçamentária do Governo Federal, que lá não contam com Organizações Sociais no seu modelo de gestão, e que os recursos vêm de parcerias com o segundo setor, empresas privadas e algumas
pessoas - mecenas - que investem em cultura, pela crença e paixão nas artes, a ciência, o ensino, a Cultura em geral. Ainda durante a nossa conversa,
relatou que a Cultura e a Educação são inseparáveis, e inabaláveis, e que a
intersetoriedade caminha muito bem, entre as secretarias de Cultura, Educação e Turismo.
Visitei alguns equipamentos: teatros, museus e bibliotecas, e estejam certos: __ Senti-me em um país de Primeiro Mundo, que tem consciência e respeito pelo seu patrimônio
histórico e cultural.
Exposição da Mafalda na Biblioteca Nacional |
Teatro Colon |
Antes de ir, o Secretário Andrés Gribnicow me entregou uma folha de papel com as seguintes inscrições:
"Función de la Secretaria: Planificar, promover, difundir y
estimular el desarrollo Cultural y Turístico de Vicente
competitividad turística, la formación y creación
artística, la difusión y valorización cultural y turística,
promoviendo su sostenibilidad y apropiación social".
Não houve necessidade de falar mais nada sobre essa parte oficial de minha visita a Argentina. Sobrou a melhor das minhas impressões. Volto acreditando que ainda temos
muito a aprender com los Hermanos.
Em tempos de manifestações “verde e amarela”,
estamos anos-luz, deles, onde se percebe e se testemunha manifestações todos os dias, porque o povo
Argentino aprendeu desde muito cedo a contestar, lutar
pelas suas convicções.
pelas suas convicções.
E a maior prova dessa tradição está localizada na Praça 1.º de Maio, onde as históricas e bastante conhecidas 'Mães de Maio', se manifestam todas as quartas-feiras, em respeito à memória de seus
filhos desaparecidos, mortos e torturados durante a ditadura Argentina.
Praça 1º de Maio e a real situaçao da Argentina |
Mas, deixo aqui uma reflexão do escritor argentino Jorge Luis Borges:
“(...) As ditaduras fomentam a opressão, as ditaduras
fomentam o servilismo, as ditaduras fomentam a crueldade; mas o mais abominável
é que elas fomentam a idiotia (..)
“(...) A memória é essencial (...)
Parabéns pelo teu jeito leve e agradável de escrever. É como se vc usasse toda a prática profissional dos anos há que danças, porém agora, na escrita. E é! Santé.
ResponderExcluir