Um dia, o poeta Marcelo Ariel, um profeta contemporâneo.
Disse-me assim:
- Tatiana, o Entusiasmo nunca se repete!
Nesse momento, no grau de evolução que me encontrava,
não conseguia encontrar o significado real dessa frase.
No meu processo de autoconhecimento, precisei
compreender que é preciso muitas vezes estar só, no silêncio, para ativar os dispositivos da nossa criatividade.
Os profundamente sós, estão imersos no mundo.
Essa frase também é dele...
Quando compreendi que tinha que me libertar das
opressões do mundo, dos “VOCE DEVE”, isso, ou aquilo, minha dança flui
naturalmente.
Na busca de encontrar o Bem-estar o prazer, o
teos, enfim o entusiasmo.Que encontrei a verdadeira
alegria, foi no meu silêncio, que encontrei a perfeita harmonia do meu poder de
criação.
Coletivo Garage estágio Criança |
A nossa criatividade necessita desse momento, talvez
seja por isso que os artistas sejam tão solitários e incompreendidos.
A vida de um artista é feita de PROVAÇÂO
E A Provação, é o sacrifício do EGO.
Quando abandonei o VOCE DEVE, matei o dragão da
opressão, do julgamento e evoluí para o estágio de criança.
Voltar a ser criança, eis o caminho.
Isso não quer dizer que tenha que ser infantil.
Aliás, a inocência de uma criança, é uma das coisas
mais belas que há.
A partir daí, minha intuição se aguçou, fiquei mais
sagaz, perceptiva a tudo, a todos os gestos, momentos, e só assim pude perceber
que tudo É Sagrado.
Que não se exige estar em lugares sagrados, para
sentir o Sagrado, a divindade esta em tudo:
Num céu aberto
Numa criança num balanço
Numa idosa escolhendo frutas
Em simples fatos do cotidiano.
O sagrado transcende a religião, o sectarismo, e até
a fé.
Porque mesmo um ateu, é capaz, de sentir a dádiva de
deus, mesmo um ateu, se sacrifica pelo outro, Pelo outro ser, como lá dentro,
ele sabe que todos somos um.
Improviso Performance Sagrado |
O improviso partiu daí, o entusiasmo nunca se repete
como repetir mil vezes a mesma coreografia, se o tempo não para, e cada segundo
é único, é uma dádiva.
Estamos coincidentemente no mês de maio, da deusa
Maia, mas mulheres são deusas, Maia era na mitologia a deusa da fertilidade.
Antes de deusas, musas, fadas, somos filhas, somos mães, somos mulheres, temos
um corpo vivo. Somos filhas de Eva, que comeu do fruto da dualidade, cometemos falhas,
somos humanas, demasiadamente humanas.
E é o corpo que tem uma alma.
Elas dançam, porque não sabem cantar, ou escrever, dança
para transformar tudo em imagem, o movimento, o desenho, a pintura, a imagem,
jamais é esquecida.
Nada foi ensaiado, só algumas marcações, tudo flui
de uma harmonia do momento.
Tatiana Justel e Adriana Barbieri bailarinas e performers do Garage |
Dançamos a Vida!
Celebramos a Vida!
Com água, luz, Fogo, Vinho, e o ar que sopra dos
nossos pulmões.
O Sopro da vida.
Dançamos a vida e a morte,
Porque temos que morrer muitas vezes, para renascermos.
Essa maturidade, nos liberta, e permitir dançar com
entusiasmo, a vida.
Dançamos sem perder o contato, somos uma
unidade.
Separadas por dois corpos.
Nas escrituras sagradas, o vinho representa o sangue
de Cristo. O pão, a Santa Ceia, é a comunhão, a Eucaristia, significa: Gratidão.
Dançamos pra Ele.
Vivemos pra Ele.
A vida foi desejada, organizada, planejada por uma
inteligência metafísica, só podemos sentir. Mas todas as respostas estão em
nós.
Após a dança do vinho, Vamos para o sacrifício,
assim como Jesus dançou em círculos, entoou hinos, comeu, bebeu, antes de ser
sacrificado,
Nós dançamos, antes de morrer.
Devemos morrer, para renascer,
Esse é o caminho.
O Lava – pés
Performance Lava-pés Tatiana Justel e Costa Villar atrás a Santa Ceia representada pelos Peixes de Villar. |
Costa Villar e a Santa Ceia |
Assistia ao filme de Renoir, em um momento da cena,
Renoir lavava os pés da sua modelo, um ato simples, que me fez lembrar Maria Madalena,
e mesmo Jesus que lavou os pés de seus discípulos.
É humildade, adoração, fidelidade, amor.
Esse movimento performático é simples, um movimento
do cotidiano, que se torna sacro, a partir da fé.
Em todos os momentos, podemos encontrar dispositivos
disponíveis para despertá-lo da fé, para podermos sacralizar todas as coisas
terrenas.
A Água é o símbolo do batismo. Também é sagrada
É a lágrima de Deus.
O Arco-Íris também, representado pelas cores,
também é Sagrado.
Quando disse Deus:
As Cores , O Arco-Íris Sagrado Trabalho de Olegário Monteiro |
Nunca mais iriei destruir o mundo em dilúvio,
Eis o Sol, para que se lembre de mim, O Sagrado!
O Fogo também é sagrado, porque é a luz.
O Sacerdote, ou Bispo, ou Papa, na performance tem o
desempenho de direcionar as mulheres ao Sagrado.
A Vida e a Morte.
Por que as duas caminham juntas.
Olegário Monteiro representando o Sacerdote |
Utilizo-me de um clichê:
“(...) Não danço para viver, danço para vida não
sair de mim (...)”.
O Propósito é dançar a vida.
O sagrado nunca deixará de ser contemporâneo.
Está em tudo
Em nossos pensamentos
No silencio
No Grito
Nos nossos atos
Nos nossos gestos
Mais sutis
Minhas referências:
Joseph Cambpell - " O Poder do Mito"
Nietzsche - "Você Deve"
Schopenhauer - " Os fundamentos da Moralidade"
Nos artistas: Leonardo Da Vinci, à
Caravaggio, Goya, Matisse, Picasso, Basquiat, Bispo do Rosário etc
Costa, Olegário, Ariel, Adriana,Bettioll e José Manuel.
E Deus
Deus Vivo
Do amor.
Da fé.
Do Sagrado.
Deus, que criou o céu e a terra e disse:
Todos somos um.
Irmão de cores .
Obra de Claudinei Bettiol artista convidado |
Á José Manuel de Souza Neto (In memoriam) artista plástico, historiador, mestre do Coletivo Garage de Arte. |
Obra de José Manuel de Souza Neto |
A ARTE DEVE , ATRAVES DO OBJETO, REVELAR O RESPLENDOR. QUANDO VIMOS UMA OBRA DE ARTE, SENTIMOS:
ISSO FALA COM A NOSSA PRÓPRIA VIDA.
Texto: Tatiana Justel
Texto: Tatiana Justel
Foto: Fabiano ignácio, Laurival Camargo, Lairton Carvalho, Anak Albuquerque.
Muito obrigada.
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